2007-02-24

2º Desafio as Palavras


Não sei se foi por acaso que, com um gesto aparentemente furtivo, afastaste um pouco a saia, deixando que aqueles fragmentos das tuas coxas, que apenas costumas deixar entrever a quem tem preeminência especial, fustigassem, como uma torrente o meu olhar já atraído como um íman. Naquele momento, no meu corpo, apenas matéria animal, o sangue circulou com mais força, canalizando-se, acompanhado de murmúrios ofegantes, para o local onde se concentra a paixão. Nem a frieza daquela tarde de Inverno conseguia ocultar os traços já visíveis da minha perturbação. Os risos e a prosa ocasional que se soltaram da boca, não disfarçaram a luta nada dócil que se travava no chão do meu instinto. Mas assim como os insectos que se esmagam contra a vidraça, as gargalhadas desdenhosas com que humilhaste o meu desejo, foram o chão onde ficou sepultada a minha sede de conquista, mais uma vez insaciada.

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DESAFIOS
Murmúrios de paixão
São a preeminência da prosa
Na dócil luta da boca
Que como um íman
Procura incessantemente
O chão do teu corpo
Percorrendo
O inverno do gesto...
E o sangue, em torrente
Inventa fragmentos
De risos
Delírios de coxas
Na frieza da matéria
Enquanto loucos traços
Esmagam
As dores
No calor do acto!...

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Da prosa ensaiada, do gesto da escrita pintado a sangue,
Ouço os risos e os murmúrios que esmagam a frieza do inverno.
A paixão pela vida faz com que a boca inicie uma luta, e com preeminência saio desta matéria.
Os traços das coxas no chão têm o efeito de íman na minha visão.
Os fragmentos do meu pensamento saem em torrente, e fica a imagem dócil de um dia...

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A paixao é uma torrente de prosa que sai da minha boca. A tua frieza sao murmúrios de inverno, fragmentos de sangue que me esmagam e me prendem no chão, como um íman. E os teus traços... E os teus risos... E esse teu gesto tao dócil... é uma luta para nao amar-te!
Por : Black Cat

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Brincar com as palavras
Com esta torrente de palavras
Que irei imaginar que meta coxas
Lábios, braços e pernas
Mas sem de sexo falar...
Que desta boca não saiam fragmentos
E deste meu gesto sentido
Hei-de demonstrar a paixão
E usar o vermelho sangue
Para dominar os risos
E os ignóbeis murmúrios
Que iram ter ao ler isto.
É que o Inverno foi rigoroso
E os traços esmagam a matéria ...
O chão funciona como íman
Que me atrai a escrita
Saio com preeminência
Sendo sempre a rapariga dócil
Que não sabe nem aprende...
A escrever em prosa
E que assim luta
Com as palavras
E a frieza do dia a dia

Por: Psique

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Na boca de muitos a palavra dócil tão falseada, que esmagam a frieza da preeminência de quem usa uma torrente de murmúrios como íman maléfico. A caminhada é dura e já longa e as coxas dão sinal de paragem. Sentada no chão, revejo traços de fragmentos de um inverno rigoroso que desaba num coração bombeado por sangue já tão desgastado. Afinal sou matéria...mas também sou paixão. Levanto-me num gesto rápido, solto risos afugentando possíveis invasores numa luta que não dou tréguas e grito: A vida é a melhor prosa feita de folhas diárias...coloridas e outras debotadas por lágrimas! E num "DESAFIO" o sol voltou a brilhar!
Por: Fatyly

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2007-02-21

2º Desafio

Desafio as Palavras
Um convite de exercício ao músculo literário
O 2º Desafio está lançado. São 20 as palavras soltas nesta imagem !
Enviem os textos para:



Obrigado Amigos

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42º

Sempre que me olho no ESPELHO, vejo as minhas FORMAS e procuro nos meus
SENTIDOS a TELA que mostra o NORTE que me leva até ti.
À medida que subo nos DEGRAUS da VIDA, o SEXO faz ECO na minha PELE. As tuas
palavras demonstram a AUDÁCIA que querias que viesse da minha VOZ.
Anseio pelos teus GESTOS, mas deténs-te antes de chegar a mim, ficas imóvel,
qual PEDRA com medo do NEGRUME da noite e com o desejo da MORTE da
madrugada. Deixo-te mergulhado num CAFÉ e entro no banho. Pareces, então,
despertar e apenas queres agarrar os RETALHOS de mim enquanto a ÁGUA quente
escorre pelo meu corpo… e fazes-me fervilhar…
Por: Xinha

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41º

PINTO AS FORMAS DA CIDADE
Pinto as formas da cidade
Desço degraus de lonjura
E choro esta água pura
Espelho nos olhos meus
E terno eco em meu peito...
E sou a pedra, o granito
Que na cidade é suporte
Nesta cidade que ao norte
Dá cor, dá voz e dá vida;
Ó Cidade tão querida
Que dás a todo o negrume
A tela dor dos sentidos
A emoldurar a morte
E tua pele e a sorte
Na audácia de tantos gestos
Pinto retalhos funestos
Pelos tempos mais doridos...
Pinto as formas da cidade
Falo abrindo o seu sexo
E o quadro é desconexo
Se não tiver o aconchego
Do bulício do café...
E ao entrar nesta pintura
Paisagem do meu apego
Sinto o calor e a doçura
Da alegria e da amargura
Da vida, como ela é!...
Por: Maria Mamede

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40º

Sentada na pedra fria dos degraus da tua casa, numa noite onde o negrume reflectia o meu pensamento. As formas que já foram, e agora um corpo retalhado pela vida. Pinto na tela a morte, com a audácia misturo as cores com a água…Pego no café, olho-me ao espelho, a pele gasta, com pequenos gestos ajeito o cabelo. Sinto um eco, uma voz, vinda de norte. Tudo reage em mim, todos os sentidos são o mote para o sexo não ter fim.

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39º

(Dedicado ao meu Fifi, com muito...Amor)

Audácia é a tua que continuas a olhar sem pudor para as formas roliças das moças que por ti passam. Continuas assim e ainda acabas a contar os degraus da nossa casa de uma maneira tal que até vai fazer eco. E, de manhã, quando vaidoso como és, se olhares ao espelho terás uns olhos de um negrume que nem terás voz para ir ao teu café do costume pedir um cimbalino, como se diz no nosso Norte. Em vez disso suplicarás ao garçon Ambrósio que te apetece algo semelhante a hirudoid. Ser-te-á servida água e um saquinho plástico para recolheres os retalhos desse corpo podre que deverás colocar no Ecoponto cor-de-rosa, a cor do nosso amor. E chegaste tu a este ponto por pensares só em sexo e limitares todos os teus gestos e olhares à cobiça das moçoilas de formas roliças. Quem assim procede não merece talvez mais do que levar com uma pedra na cabeça mas eu, sou mulher de exageros, tu sabes. E pronto, já me fartei de te violentar e ainda continuo aqui às voltas com uma tela já que, não sei como te dar com ela e fazer-te perder os sentidos.

Por: Robina

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38º

Sentada no café ao sol concluí que audácia é continuar a perseguir a vida. Independentemente das formas por que o façamos.
Seguir o eco de antigas vidas, ouvir a voz da consciência, não só a dos sentidos, sem temer o negrume da noite ou o da morte.

A água da pele, feita espelho onde, de norte para sul, em cada célula, minúscula tela, breves retalhos de esquecidos gestos se revelam e, pedra a pedra, reconstroem os degraus até ao início da vida. Ao sexo.
Por: Alma

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37º

Sentados nos degraus
Sentados nos degraus deixámos a água da chuva encharcar-nos.
No negrume da noite a água que escorria empoçava na pedra gasta da escadaria, semelhando tela, ou espelho onde a vida se reflectia.
Tudo nela passava formas – corpos em movimento – seus gestos de proximidade e ternura, breves retalhos de expressões dos sentidos e quando, na água empoçada, uma vibração corria, sabíamos corresponder ao eco da inicial emoção na pele.
Resposta à voz amada, ao prazer do sexo, ao temor da vida ou da morte.
Os nossos corpos molhados aproximaram-se mais buscando o calor que deles fugia com a água que por eles escorria. E eis que mais uma vez me surpreendes, da mochila tiraste pequeno termos e um gole de café quente aqueceu-nos até à alma. Só nos faltava o derradeiro golpe de asa. A audácia de seguir sempre o rumo buscando, da vida o sentido, norte.
Por: Dark

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36º

Estranha a audácia dos sentidos que correm soltos, livres, sem norte. Com as mãos percorre a pele feita de água, os gestos tomam formas diferentes, ousadas. Dá eco a desejos desconhecidos, transformando o corpo em espelho e tela pintada. Protegendo-se do negrume da noite, vestindo apenas de retalhos, é naqueles degraus de pedra, que vende o sexo, a vida, a voz e compra a morte a troco de um café.

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35º

Noite de sexo

Dá-me uma noite de sexo
Até perder o norte
Ali os dois no anexo
Até que chegue a morte
Quero ver-te no espelho
Pintar-te na tela
Beijar-te no joelho
Fazer-te mais bela
Afundar-me em tuas formas
Amar-te nos degraus
Sem regras nem normas
Nesses frios calhaus
Podes fazer-me em retalhos
Atirar-me contra a pedra
Até ficar em frangalhos
Ou de forma diedra
Mostra-me a tua audácia
Até ficar sem sentidos
Serei lobo da Alsácia
Gostarás dos meus latidos
E no eco da tua voz
Em teus gestos rendido
A vida que está em nós
O meu corpo prendido
Venha água para refrescar
E o negrume do café
Agora na sala-de-estar
Não quero ficar de pé!

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34º

Desço os degraus
e em gestos provocantes
chamo por ti.
Tu fixas-me atentamente
faço do meu corpo
uma tela
onde tu desenhas
em minha pele com a boca
beijos
os nossos com aroma de café.
Perco o norte
entre as carícias
que trocamos.
Audácia pura
paixão fulminante
extravio os sentidos de tanto te amar
toco o teu sexo
e claramente
tudo se transforma.
A tua voz poética
ao dizeres-me
que as formas do meu corpo
levam-te ao êxtase
fazem-me sentir amada.
Retalhos de mim
procuram no espelho da alma
a felicidade.
Juntos formamos uma cascata
onde corre água constante.
Só a morte me assusta.
Um rasto de negrume teima
bater em meu coração.
Idializo o nosso amor em resquícios
de uma paixão
num ninho
guarnecido
de versos e poesia
que cubriu a vida
em sonhos dispersos.
Nosso amor é inesgotável
e lapido sobre a pedra
palavras celestiais.
Um eco constante
envolve-nos entre
o tempo que nos resta.

Por: Lisa

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33º

Sopa de letras

Falavas-me das mágoas que te dilaceram as entranhas como um tumor a minar, a minar, a morte perto e tão longe, a cegueira de não olhar o brilho da lua e das estepes na tépida modorra das manhãs, no teu lado Norte lunar acabrunhado, arrastado peso culpa enevoavando-te a felicidade no fim da tarde, em passos e gestos tolhidos, nas formas da caminhada oprimida dos prantos, agora riachos finos e moribundos de água choca.

E eu espelho, encolhida a tapar-me devagar de ti e a pensar num final diferente, nos amores e dos amores e daqueles que descreves que não têm entremeios, nem meios, nem fim, que nos respiram através da pele, do sexo projectado eco vento, em retalhos de cheiros e toques, num pestanejar furtuito enquanto mexes o negrume do café. E enquanto a voz te abranda, vejo-me pedra, vida, tela retesada, e fremem-me as células, a crescer e mirrar, e voltear e rodopiar e enrolar, no núcleo apertado dos afectos escondidinhos que sobrevivem apulsar, na audácia em saborear o bem e o mal que nos dizimam os sentidos. Daqueles que nos marcam a ferro indeléveis o sentir.

E a descer descuidada os degraus ainda te atiro em modos de despedida: - E olha... um grande amor não tem que necessariamente deixar saudades. Pode-nos deixar plenos, íntegros, seguros de saber que se foi capaz, e que se é capaz de continuar a amar mesmo depois do fim.

Por: jp

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32º

Peguei em duas FORMAS para fazer um bolo de camadas. Juntei ovos e açúcar e fiz os GESTOS habituais para bater o bolo. Juntei CAFÉ com um NEGRUME africano e farinha, e voltei a bater até só ouvir o ECO da batedeira. Bebi um copo de água das PEDRAS para me dar VIDA. Ouvi a VOZ dos meus filhos, que subiam os DEGRAUS. É preciso AUDÁCIA, dizia a Inês, para pintar uma TELA daquele tamanho. Continuei com o bolo. Juntei fermento, bati as claras em castelo e misturei tudo. Coloquei nas formas, que levei ao forno. Queimei a PELE da mão e disse um palavrão, não fosse eu uma mulher do NORTE. Ao fim de 1/2 hora, peguei em 2 RETALHOS de pano e tirei as formas do forno. O cheirinho era de fazer perder os SENTIDOS. Deixei arrefecer. Ao passar em frente do ESPELHO, olhei e pensei: estás gorda gorda e vais comer bolo? Vou, claro, só a MORTE me impedirá de comer uma fatia. Ou duas...
E no fim de tudo...o SEXO
Por: Lúcia

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31º

Recomeço

Vês este sofá vazio?
Simboliza a tua capitulação.
A tua recusa da audácia de acompanhares-me.
Nesta noite de chuva de Inverno, tento, mais uma vez de escutar a minha alma. Procuro-me fixando o negrume para além da vidraça. Procuro-me no espelho embaciado do quarto, onde desenho formas que descubro serem letras e letras de onde emerge o teu nome, entre gotas de água. O teu nome, não o meu.

Preciso de reencontrar a minha voz. Preciso de reconstruir os diversos retalhos que rasguei aos meus sonhos. Preciso de projectar-me na tela da minha memória, e delinear as rotas do meu querer, para acreditar que existe um norte e existem sentidos, mesmo que aparentemente ocultos, nesta vida, agora despojada de ti.
Sabes, eu sou uma mulher simples.

Encantei-me com a ternura nascida do nosso encontro, tudo me parecia claro – a alegria no teu olhar, as nossas mãos enlaçadas em cima tampo de pedra da mesa do velho café, os nossos beijos, a textura da tua pele, a inquietação do teu sexo quando me sentaste no teu colo pela primeira vez, entre risadas, os teus gestos pressentindo a respiração do meu corpo, o eco dos nossos murmúrios, após cada encontro.

Só mais tarde soube que tu impunhas degraus ao nosso sentimento, como se tudo devesse seguir uma sequência, como se o afecto não fosse, por natureza, surpreendente no seu devir…Eu, que estava feliz por nós sermos capazes de ondularmos os nossos corpos em bailados de aves selvagens, e casarmos a nossas almas sem dizermos uma palavra, iludindo a vida e morte em breves cintilações de eternidade.

Como poderia saber que um dia tu renunciarias ao que dizias ser-te vertebral, que optarias pela imobilidade pardacenta dos teus dias sem nós?

Por: Alba

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30º

De sem sentidos acordei. Morri? Não, a morte não pode chegar assim indolorosamente silenciosa. Simplesmente estava a dormir que nem uma pedra, fugido dos retalhos da vida, preso no negrume da consciência sem norte, vida sem audácia, gestos rotineiros do dia a dia, como uma tela pendurada numa parede branca em que todos os dias se olha e não se vê com olhos de ver, não se admira a forma, não se tem o eco de quem a pintou. Acordei com a mesma pele, admirei-me ao espelho, fiz gestos rápidos na vã esperança que o reflexo fosse mais lento. Acordei apenas de um sono profundo. Bebi um café, pensei em sexo e subi os degraus numa corrida desenfreada.

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29º

Desperto na tua audácia. Os meus sentidos buscam o
o sabor a café da tua boca,
aquele último beijo.
Tacteio os retalhos de uma tela colorida ao fim do corredor,
onde busco a suavidade da tua pele .
Ecoa no meu ser a tua voz e leva-me ao norte
de um sempre sul perdido em mim.
Respiro e sinto a vida
versus morte
Desço pausadamente pelos degraus em pedra
neste negrume onde estou.
Encaminho-me fixo o espelho e sonho-te por instantes,
recordo-te em memórias , em formas, em gestos, no aconchego do teu sexo
Deito à cara água gelada
E o dia começa aqui.

Por: Ailéh

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28º

Sentei-me com a respiração ofegante sobre os degraus do muro que me impedia a passagem para o outro lado. Caminhava há mais de uma hora perdida em pensamentos que não conseguia ordenar. Sentia a solidão pesar-me nos ombros curvados, apesar das ideias que me inundavam, da dor que não conseguia apagar. O dia começava a ganhar uma forma própria nos primeiros raios de sol que queimavam as ervas que calquei, nos sons que abafavam os murmúrios que a noite cantou, no céu que perdeu o negrume iluminado pelo dourado das estrelas. Ao longe um vulto deixou marcado no chão de pedra uma sombra pesada que se afastava sem olhar. Sabia que o cansaço dorido que o empurrava passo a passo não lhe permitiria levantar o olhar sombrio para uma viajante da noite, senti que a sua solidão era tão grande como a minha, por isso não iria interromper as dores que procurava abafar na audácia de uma caminhada sem norte ou destino traçado. Retalhos de mim desenhavam-se na tela pintada no espelho que aquele corpo me deixava antever e soube também que ainda não estava suficientemente longe dos meus pesadelos para poder conviver com eles. O seu eco persistia em vestir a minha pele, moldava formas de fantasmas que enganavam os meus sentidos e teimavam em habitar as lembranças perdidas no sótão da vida, com gestos de ardor e prazer que se confundiam com a tua voz cristalina como a água mais pura em que desfrutavas o doce sabor do meu sexo que floria para ti. E com um café frio, esquecido entre os dedos trémulos, acariciavas o meu corpo com um olhar quente de desejo. Fingia dormir para que me aquecesses com a volúpia que adivinhava na respiração ofegante que humedecia o quarto. Sorriste…adivinhaste o tremor que me percorreu o corpo e cobriste-o para que essa noite não tivesse fim. Abandonei a humidade refrescante do muro coberto de um musgo de verde pleno e calquei a minha sombra ténue cujo traçado se adivinhava na noite que se despedia deixando a memória de uma outra noite. A distância entre elas era vencida ao som de um silêncio reconfortante. Procurava o meu destino num destino desconhecido. Quando o sol conquistou metade do céu e queimou o pouco que restava das minhas forças encostei-me a um tronco velho e gasto em forma de saudade. Entrelacei os braços em torno dos sentimentos de seca desolação que transmitia e ouvi o queixume e o choro de abandono. A sabedoria dos seus anos e a beleza de um tronco estéril não eram um convite à permanência. Novas árvores floriam e colhiam apaixonados olhares de admiração. Em sintonia na dor, apontei para a flor amarela que florescia a seus pés, adornei a concha oca do seu tronco com um sussurro de esperança: “Juntos vencemos a morte que outros nos ofereceram”.
Por: C Marques

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27º

Os seus cinco sentidos diziam-lhe para permanecer alerta o mais tempo possível, enquanto permanecesse naquela localidade do norte. A morte parecia rondar a vizinhança, o que se confirmava pelos 3 assassinatos ocorridos nas duas últimas semanas, sob o negrume das noites. Nem a voz do polícia que fazia a ronda nocturna e o seu eco o deixavam mais sossegado perante o que já tinha sido amplamente noticiado. Os corpos eram deixados nos degraus duma soleira dum qualquer café, com as suas formas carnudas, redondas e desnudadas totalmente visíveis. Sexo parecia ser o móbil do crime. As vítimas, todas elas do sexo masculino, apresentavam arranhões no peito, marcas vermelhas nos pulsos e escoriações nas costas e nas nádegas. O corpo de cada uma das vítimas, espelho de atrocidades homossexuais, era também a tela de pele nua onde o violador decalcava com marcador a sua marca: o desenho de uma mão grande, com dedos longos, capaz de gestos íntimos e assassinos. A audácia deste ser não terminava aqui. A roupa dos alvos a quem tirava a vida era cuidadosamente colocada ao lado destes, em retalhos, com uma pedra por cima. Não havia quaisquer vestígios de sangue nem nas vítimas nem nas suas roupas. Sabia-se apenas uma coisa: ele atacava quando as noites eram invadidas pela água que jorrava torrencialmente já há um mês. E hoje era uma dessas noites e a sua casa parecia-lhe tão longe…

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26º

Haverá outras formas de chegar a ti? Não me apetece alcançar-te em degraus, pisar na água, ver-me ao espelho, ou sequer ter apenas sexo nem que prometido até à morte. Deixa-me tocar na tua pele, ouvir o teu eco, pegar nos teus retalhos, juntar à tua audácia e fazíamos uma tela sem ponta de negrume! Café? A esta hora? Não percebo a tua ideia! Estava tão poética… Bem, continuando, não me leves a mal, são gestos sem norte, em voz alta, vida banal, como pedra firme e quieta, não te preenche os sentidos, pois não?
Por: Mo

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25º

Teus gestos,
reflectidos na água
que dos olhos escorre
–feita espelho
de incontida dor –
e desliza na pele
cavando
profundos sulcos _
quase vales _
como se pedras
em desenfreada avalanche
onde o eco
das palavras persiste,
a ferir de morte.
*
A vida perdeu sentido e cor.
Triste tela
onde o negrume impera
e os sentidos, perdidos,
não encontram o norte.
*
De tua voz
as duras palavras –
eco de desamor,
corpo sem formas –
murmuradas, mansas,
como se de amor,
ao redor da chávena do matinal café
sugaram-me força e vontade.
*
O esventrado corpo meu,
retalhos
de alma esvaída, jaz
algures, em longínquos
perdidos degraus da vida.
*
Tão mansa a tua fala
ao redor da mesa
do matinal café
quando disseste: “nunca te amei!
Era só sexo, e cansei”.
*
O esventrado corpo meu,
e a retalhada alma -
cacos nos degraus –
aguardam redentora chuva
que os faça erguer e
continuar a viver
vida plena,
cheia de audácia.

Por: TMara

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2007-02-03

24º

Por: Didas

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23º

Todas as formas que a saudade veste, os retalhos da vida que ela vai buscar, os gestos, os medos, chegam até mim, como se os arrancasse à tela. Passei de lado, atrás das colunas, adivinhando algo que me trouxesse o eco da tua morte. Mas depois um esgar. E era um espelho. Os degraus que subi, um a um, eram já uma ponte. Ouvi água correr em todas as direcções. E talvez a tua voz. Estou diante da tela. E então sei que por um momento, por um prolongado momento, os teus sentidos se amotinaram, quebraram a pedra que te deu consistência e norte e que, afastado o negrume, libertaste gota a gota a pele que cheirei e toquei. Respiro-te e naquele canto onde pintaste a mancha castanha, há um odor a café e torradas pela manhã. Ali, à direita, os traços cruzam-se e suas raiva e trabalho. Mas aqui, frente ao meu peito, sabes a sexo e sussuros. Voltei-me. Marca-me sempre a audácia que nunca tive, para rasgar-te todo.

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22º

Sempre que vou ter contigo, a água fria nos meus pés, apura-me os sentidos para aquilo que és para mim. Grito a plenos pulmões e a minha voz provoca um eco que se prolonga até ao infinito. Se me disseres que a minha pele é macia e que os meus gestos são quentes então poderei dizer que és o meu Norte e é para lá que viajarei. Quando lá chegar terei a audácia de recolher os retalhos de fotografias nos degraus que me levarão a ti? Daqui, todas asformas que são familiares ficam distorcidas perante o espelho da minha vida. Prefiro, por agora, atirar uma pedra à tela onde o negrume dos teus olhos são a morte para os meus dias. Para quê discutir o sexo dos anjos quando oque preciso é de um café para acordar deste sonho?

Por: Lídia

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21º

“Ah, e as FORMAS...?!”, perguntou surdamente. Nos DEGRAUS permanecia uma ÁGUA fria que em baixo se resolvia em charco, um ESPELHO gelado sem SEXO nem magia. Uma cor baça, de MORTE, marcara-lhe na PELE o ECO dos RETALHOS de AUDÁCIA que agora, pintados na TELA de uma alegria dissipada pelo NEGRUME da memória de outros encontros, mais pareciam espectros de outra história e ali, naquele CAFÉ frio, o sabor azedo da pergunta, feita de GESTOS sem fundo, de medo, fez-lhe finalmente perder o NORTE; e a VOZ com que apelava à VIDA, fingida PEDRA de toque, em muitos SENTIDOS foi voz de despedida.
Por: Pirata-vermelho

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20º

Se desse voz às formas que me assomam os sentidos, se lhes tirasse o negrume e deixasse apenas a pele aos gestos descarnados, quem sabe a tela se encheria de uma nova claridade invadida por ecos de audácia. Permaneço no entanto, na margem desta água provisória e sinto nunca ter tocado a alma das coisas; fico-me aqui acariciando esta pedra e tentando adivinhar-lhe o sexo, por entre as nervuras da pele retalhada, como um cego usando todos os sentidos. E quanto mais luz existe, mais cega me sinto frente a este espelho sem vida, que sinto como uma morte sem janelas. Acocoro-me por entre as luzes e busco um sono profundo que nenhum café conseguirá acordar; enterro-me mais ainda no lodo e deixo-me desaparecer lentamente, vou pensando devagar que afinal, talvez a paz seja possível...

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19º

Qualquer coisa me aguçou os sentidos, uma pedra? Parece ter vida, como se uma voz saísse dela. Virei-me para Norte, fiz gestos às pessoas que estavam no café mas aparentemente ninguém me viu, talvez pelo negrume da noite que começava. Parecia uma tela de Chagal, havia ali qualquer coisa de belo e desconcertante. Teria eu a audácia de tentar juntar os retalhos ou, se tentasse, ficaria apenas o registo de um eco, muito aquém daquela estranheza sentida na pele. A pedra parecia encerrar tudo sobrre a vida e a morte, sobre as relações, sobre o sexo, sobre o sofrimento e a estética, era como um espelho em que se pode rever cada pensamento. Estremeci ao ver-me, transparente como a água, ali, no meio do nada! Quando acordei percebi que tinha adormecido ali nos degraus . Quisera eu saber as formas dos sonhos!
Por: Inês

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2007-01-29

18º

Perdi-me, doidamente, naquele corpo de angulosas formas. Na sua boca meu norte, no seu peito meu centro, no seu sexo meu equilíbrio. A audácia com que em mim se roçava , despertando desejos infinitos, espicaçando os meus sentidos, beijando minha pele. Se pudesse ter pintado numa tela os retalhos de uma vida que corria rápida como água através de degraus de pedra, teria gravado da sua voz o eco , da sua boca o sabor, das sua mãos os gestos, do seu corpo os cambiantes, dos seus gostos o café. Frente ao espelho, desvairada, olho-me a ver se encontro na face o negrume que me vai na alma. A morte arrebatou-mo. Já nada mais quero.
Por: Marta

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17º

(Dado que a Lingua Portuguesa é feita de provérbios, resolvi aceitar o desafio...)

"A inveja toma todas as FORMAS para ferir ...!"
"Em política, uns são alpinistas, outros DEGRAUS ...!"
"Afoga-se mais gente em vinho do que em ÁGUA"
"A cara é o ESPELHO da alma ...!"
"Quem não sabe, tem de discutir o SEXO dos anjos ...!"
"Vida sem amigos, MORTE sem castigo"
"Quem não quer ser lobo, não lhe veste a PELE !"
"Família cresceu, ECOnomia em casa ...!"
"Sem AUDÁCIA não há fortuna ...!"
"Antes cauTELA que arrependimento"
"Amigo remendado, CAFÉ requentado!"
"VENTO NORTE, três dias forte"
"Enquanto há VIDA, há esperança ...!"
"A vingança é uma PEDRA que se volta contra quem a atira ...!"
"A amizade é um amor que não se comunica pelos SENTIDOS ...!"

Por: Miguel

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16º

Contém múltiplas FORMAS
Dá VOZ aos GESTOS com AUDÁCIA
ESPELHO de si própria
Arquétipo dos graus e DEGRAUS
Pode ser fresca como ÁGUA
Ou dolorosa como o NEGRUME do SEXO que leva à MORTE
RETALHOS de VIDA
Ou bússola sem NORTE
Provoca ECO na vasta TELA dos SENTIDOS
PELE percutida com PEDRA
E por vezes cheiro a CAFÉ

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15º

Olha pela janela, para o negrume da noite e deixa-se ficar ali, a testa encostada ao vidro, imerso em pensamentos. Será que ela adivinha as emoções que lhe provoca? Será que conseguirá dela um eco relativamente ao que sente? Ou será que, como parece, para ela é só alguém suficientemente interessante para uma noite de sexo? Esta última hipótese provoca-lhe um aperto no estômago. Abana a cabeça, não se reconhecendo. Pois não era apenas isso que sempre desejou das mulheres com quem se cruzou na vida? Dirige-se à cozinha, põe água na máquina e prepara um café, que acaba por ficar a arrefecer, esquecido sobre a mesa. A ironia da situação fá-lo esboçar um sorriso triste. Ele, a quem tantas vezes chamaram desprendido, indiferente, frio, distante, está agora a provar do seu próprio remédio. Ele, que julgava ter uma pedra no lugar do coração, o hiper racional, vê-se agora enleado nas teias da paixão não retribuída e a sentir um frio de morte a invadir-lhe a alma. Ainda lhe sente o cheiro e recorda, absorto, o som da sua voz cálida, os seus gestos, o calor da sua pele, a excitação que lhe provocou a audácia com que ela procurou o prazer. Há muito tempo que ninguém era capaz de lhe estimular assim os sentidos, não apenas no sexo, mas de todas as formas possíveis e imaginárias, ao ponto de o fazer perder o norte. A perspectiva de ter finalmente encontrado a mulher que nem sabia que desejava, é como uma tela cheia de cor e vivacidade, uma pintura belíssima com que anseia preencher uma vida demasiado solitária. Porque será que o amor é tantas vezes sinónimo de dor? Olha-se ao espelho, reparando nos olhos cansados, nas rugas vincadas… É tarde, precisa tentar descansar. Sobe os degraus, dirige-se ao quarto e estende-se na cama, ainda vestido, puxando para cima de si a velha manta de retalhos que foi da sua avó. Antes de adormecer sente-se invadir pela doçura que lhe transmite a ideia de uma vida a dois.
Nos próximos dias saberá…

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14º

Carpe Diem
À saída da primeira matiné, tropecei nos degraus e antes de aterrar de cu no chão ainda bati com a biqueira dos sapatos nos teus joelhos, desmanchando-te a resma de jornais e revistas que trazias debaixo do braço numas esvoaçantes borboletas que embateram nos vidros da porta do átrio e me serviram de espelho para te adivinhar as formas das nádegas que o casacão escondia. Convidei-te para um café e quiseste também uma água lisa que bebias em golinhos para aclarar a tua voz meiga e modulada como se fosses um locutor de rádio.

Éramos mais dois náufragos da vida da grande cidade e antes da terceira sessão, girámos a bússola para o norte do sexo, esse anti-depressivo militante, trocando o imaginário da tela por travelings das nossas peles e beijos sôfregos em grande plano. Retive a audácia de me deixares sentar sobre o teu peito para cantar ao microfone com aqueles gestos e torções arrebatados enquanto afundavas o nariz num negrume de caracóis.

São apenas retalhos dos sentidos mas antes que a morte ponha uma pedra sobre o assunto e nos redija o epitáfio de que fomos tudo menos aquilo que queríamos fazer, quero afirmar-te que escolhi apaixonar-me por ti e podemos continuar a grunhir ao ritmo do ranger das madeiras e do colchão, a fazer eco da escolha acertada do aproveitamento de cada dia.

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2007-01-28

13º

A vida
Olho-me ao espelho
Todos os dias.
Prolongo esse olhar
pensando na vida.
Numa vida sem norte
sem rumo e sem sentidos.
Por vezes, penso na morte e,
em como ela é, por vezes, apelativa,
pela paz que parece prometer.
São os retalhos que sobraram.
pedaços de momentos e memórias,
que ora se avivam ora se esbatem,
que alimentam uma luta interior permanente
Às vezes parece-me
que já consigo erguer-me
e subir alguns degraus.
Outras,
Sinto saudades da voz,
do cheiro da pele e do sexo.
E volto a cair num negrume,
onde não se vislumbra qualquer luz.
Dizem-me que complico.
Que a vida é mais simples.
Tão simples como a água e
que, tal como ela
nos podemos adaptar
e tomar várias formas.
Mas o eco do passado
Persegue-me.
Não me larga.
Falta-me a coragem,
a determinação, a audácia
para seguir em frente.
Estagnei.
Não consigo mover-meS
into-me uma pedra parada no tempo.
Incapaz de gestos
Incapaz de preparar uma simples chávena de café.
Incapaz de pegar nos pincéis e criar algo
como fazia
e colorir uma tela
com cores vivas e alegres,
como a vida deveria ser.

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2007-01-26

12º

Dezanove

FORMAS com as tuas mãos uma escada com
DEGRAUS que levam o pensamento ao rio onde a
ÁGUA em que se lava o teu reflexo é o
ESPELHO de um rosto em que brilha o desejo de
SEXO de anjo que ilude o fim desafiando a
MORTE e o poder e a vida à flor da
PELE que encobre o sentido da voz chegada em
ECO mudo de vibrações carregando a saudade em
RETALHOS dominados por intenções equívocas de
AUDÁCIA como aquelas que deixaste veementes na
TELA quando com os teus pincéis alegres substituías o
NEGRUME translúcido do medo por cenas vivas de
CAFÉ concerto com dançarinas inebriadas de
GESTOS sob a frieza cortante do vento
NORTE e eu sentado à espera que a
VOZ te não doa e a ligeira doçura da
VIDA se erga violenta e decidida contra a
PEDRA gasta de uma muralha apoiada nos
SENTIDOS proibidos do tempo em que
FORMAS com as tuas mãos uma escada com
...

Por: Ikivuku

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11º

Naquele dia, naquele sítio, àquela hora, gritei com a audácia da felicidade a transpirar de mim, e ali fiquei à espera do meu eco, na esperança que a minha própria voz me encontrasse e me reconhecesse a transformação. Ali fiquei estendida naquela pedra alta, sentindo húmido o meu sexo ao pensar no café da manhã tomado na cama, atrapalhando-me os sentidos ao quase voltar a sentir a pele dele roçando a minha. As imagens surgiam em catadupa, formando uma manta de retalhos, primeiro as formas, depois os gestos, por fim o espelho que reflectia as nossas enlouquecidas provas de amor, uma atrás da outra. O som persistente de água a correr despertou-me o espírito do limbo em que me encontrava, e foi então que o meu eco veio até mim desvanecendo a imagem de felicidade que me ficara. Naquele dia, naquele sítio, àquela hora, muito depois de termos feito amor apaixonadamente, a água corria degraus abaixo em direcção à sala, e a tela que tinha começado pintar estava desfeita em mil pedaços. Senti o olhar frio da morte cravado no meu ser translúcido. Quando vi o meu corpo, um negrume inundou-me a vista e tirou-me o Norte... Uma mordaça impedira-me de gritar enquanto a faca grande, de cabo vermelho, assinalava o sítio exacto onde me fora roubada a vida!

Por: Fábula

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10º

Surgiste, sem se saber de onde, acontecida no negrume da noite, pintada pela audácia do sonho, na tela da minha memória. Porque estava só, inventei-te, como eco e espelho de mim próprio, na voz dos sentidos acordados na insónia, uma pedra no charco desta renúncia. Por isso, vieste sem gestos, sem formas definidas, retalhos subindo, pouco a pouco, os degraus
do meu desejo. Deste voz ao meu silêncio, deste norte à minha incerteza, foste a pele inventada que se colou à minha pele. Depois, por uns momentos, foste a vida que se sorve sofregamente na vertigem do sexo, assim como o condenado à morte bebe o último café que lhe concedem. E tão subitamente como apareceste, assim te desvaneceste, apagada como a espuma do mar que, por ser apenas água, não dura mais do que breves segundos.

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Quando o eco das palavras
Os retalhos de audácia
A vida sem sentidos
A morte e o sexo
Na pele pedra
Tomarem outras formas
Perderei o norte e a voz
Descerei todos os degraus
Até ao espelho de água
E os gestos deixarão
A cor da tela
No negrume do café
De uma manhã qualquer.

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Doces Horas

O sexo dele aponta agora a Norte, fazendo eco dos retalhos de desejo partilhado e das formas exóticas que os gestos dela têm sempre para lhe despertar os sentidos. Ela brinca e ri, excitada, meia despida pelos dedos convulsos dele, coquete e feminina. Brinca com o corpo dele, brinca com o próprio corpo, aproxima-se e afasta-se... E por cada novo jogo, pela antevisão da audácia dela ao fazê-lo quase sofrer pela espera, ele sente o sangue correr acelerado, como a água das cheias de Inverno a galopar por entre o negrume da terra antes ressequida. A pele dela, branca como uma tela ainda virgem, parece pedir que os dedos, a boca, a língua dele, a preencham de cores quentes e de suor. E ele tem cada vez mais urgência naquela petit mort prometida, aquela morte santa de onde renasce cheio de vida. O espelho do quarto devolve-lhe a visão dos dois corpos entrelaçados e o gume erguido do seu pénis endurecido, pedra agora, polvilhado de pequenas pérolas opalinas. E sente que o vício de tê-la não está ainda saciado e, logo pela manhã para que o dia amanheça radioso, esperará que aquela voz sussurrada lhe marque o encontro, como de costume, nos degraus do coreto do meio do jardim onde um dia marcaram o primeiro encontro para um simples café sem açúcar. E as horas anunciadas são doces assim…

Por: Hipatia

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No acto ganha FORMAS,
tombado nos DEGRAUS da vida
ÁGUA escorre dos seus olhos
no ESPELHO vê o futuro,
do SEXO que todos gostamos,
com a MORTE do fruto ,
ficará na PELE a marca
ECO de uma decisão só sua,
RETALHOS de uma vida dura,
AUDÁCIA contra os escolhos,
na TELA desta sociedade
pintada de NEGRUME
no meio de um CAFÉ,
GESTOS condenados,
por gente sem NORTE
darei sempre SIM à VOZ,
de quem interrompe uma VIDA,
escrevo na PEDRA núa
MULHER, respeito os teus SENTIDOS.

Por: Fatyly

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Baixo os olhos para a tristeza pensativa desta chávena de café. Começo por pintar uma tela feita de retalhos dos sentidos, com gestos fortes, mas sem negrume.

Ponho nela o esquecimento de quem já não se vê nas águas turvas deste espelho, de quem vai perdendo o norte à vida e à plenitude das suas formas, esquecendo ao mesmo tempo os ecos da sua pele e a memória esmorecida do sexo sem angústia.

Pinto em degraus todos os passos sem audácia, todos os gestos perdidos e regresso de súbito à mesa de café, onde descansa taciturna a chávena vazia...

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Meu querido
Na tua ausência os dias passam e deixam um vazio. Como se fossem retalhos de uma manta, ou fragmentos de uma tela, e não consigo colar, ao fim do dia, as horas que são retalhos e fica o dia incompleto. Sinto-me tão triste que me sento nos degraus da escada junto à nossa porta, a pensar na minha vida, e o teu amigo António, que decidiu não voltar ao Norte e tentar a sorte aqui, diz-me:- Ele não te quer assim triste, anda vamos beber um café. E eu vou porque sei como vocês são amigos, e porque ele me faz lembrar de ti. Tem gestos tão parecidos com os teus, como o pegar na chávena e não na asa, para beber e ao mesmo tempo sentir o calor do café, e falamos os dois de ti e de mim e como o espelho me diz que estou mais gorda, e ele não que não, que não é verdade ainda. E ontem perguntou-me se já te tinha contado o que aconteceu há dois meses, quando ele me salvou de morte certa ou coisa pior ainda, e não contei porque ainda fico a tremer e quase perco os sentidos e a caneta só de pensar nisso, por isso não te contei nada antes. Foi num dia que fui com a Irene, às compras, depois do trabalho, e quando chegava a casa e subia devagar a escada, porque me sinto mais pesada, a luz apagou-se quando eu estava entre o 1º e o 2º andar, e tudo ficou tão escuro que tive medo de dar um passo em frente ou de voltar atrás. E o negrume na escada era o espelho do meu medo, e toldava-me os gestos, e fiquei parada, colada á pedra do degrau que pisava, perscrutando o escuro, aterrorizada. De repente a luz acendeu-se, ou recuperei os sentidos, e vi o António descomposto de raiva a dizer,- Bandidos. A audácia. E na luz as nossas vozes fizeram eco, a minha e a do António, e desceram a casa da porteira que me viu tão desfalecida que foi buscar um copo de água, e disse: - A menina está bem? E o António que sim, que eu me tinha assustado e caído por isso estava assim com a roupa amarrotada e a blusa aberta…Se não fosse o António, meu querido, quem sabe tinham-me estropiado como naqueles filmes de terror que eu gosto tanto de ver. E nunca mais saberias nada de mim, nem porque estou mais gorda, nem que fiz um teste que diz que vais ser pai. O António manda-te um grande abraço. Se não fosse ele não sei que seria de mim aqui sozinha há dez meses, tão triste sem ti e desamparada sem ti.

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Para não o embaraçar olhei assim de relance no espelho, a fotografar-lhe as formas, enquanto hidratava a minha pele com óleos afrodisíacos; queria que aquela noite fosse assim como… beber um café a transbordar de natas, ao fim da tarde, numa esplanada com vista para as águas da mais romântica Lagoa. Uma tarde que antecipava seguramente uma noite de sexo violento, daquele que faz qualquer um perder os sentidos. Seria audácia minha, talvez não me saísse bem diante daquela figura escultural, mas o negrume que saía do branco da camisa dava cá uma pedra à imaginação! Só numa tela! Não era possível que a realidade me destinasse tão venturosa delícia! Uma mulher até fica atordoada com o eco que sai de uma voz assim! Eu treparia todos os degraus para lhe chegar ao cimo, porque o cimo adivinhava-se lá no topo, e eu… obcecada pelos mitos, tinha de tirar a limpo, antes da morte, a verdade da coisa. Atrapalhada nos gestos, senti-me sem norte no momento em que ele me pôs as mãos em cima! Mas não me dei por vencida. Havia de o fazer em retalhos…

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Se calhar pensas que perdi o Norte!
Era o que faltava era dar-te trunfos assim estampados na tela.
Não, não mudei de formas; apenas fugi da morte.
Conservo o espelho para relembrar o tom da minha pele
E se olhar bem no fundo dos gestos
Nada mais vejo senão o eco dos retalhos da má sorte.
Por isso recuso esse negrume,
Recuso a tua voz, a pedra que a tua mão guarda dia e noite,
Mesmo nas noites em que o sexo nos ligou à vida.
Coisa pouca, digo agora, e parto em busca de ouros sentidos,
Rumo aos degraus que me levam à superfície de uma água pura.
Audácia extrema este desejo de me espelhar em mim.
Venha o café! Não quero ficar assim.

Por: Elipse

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2007-01-22

Poema surrealista

Naqueles degraus com água
Onde a nossa audácia
Faz gestos com formas de vida,
O eco do nosso sexo
Na pedra, voz do espelho
Retalhos de uma tela
Cuja morte causa negrume na pele.
Apanhamos os sentidos
No café do Norte…
Por: Wind

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Parei nas escadas
Pensei em ti
E no cheiro a sexo
Que ainda está em mim...
Contigo perco o Norte
Adoro-te de todas as formas

Olho-me ao espelho
Ajeito a roupa e suspiro
Sinto-te
Fecho os olhos...
Sinto o teu sexo a penetrar-me
A tua pele na minha pele
O eco dos gemidos
A voz rouca
A nossa audácia junta...

A água a escorrer pelo meu corpo
No banho que tomámos
Vislumbro esta tela
Como se de um filme tratasse
Por momentos esqueço os retalhos de uma vida...

Entro e sento-me
Peço um café
Olho para o seu negrume tom
Todos os meu sentidos vivem
A morte não é para mim

Por: Psique

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2007-01-01

Desafio As Palavras

Desafio a quem por aqui passa , a escrever um conto ou um poema, com as seguintes palavras:
FORMAS, DEGRAUS, ÁGUA, ESPELHO, SEXO, MORTE, PELE, ECO, RETALHOS, AUDÁCIA, TELA, NEGRUME, CAFÉ, GESTOS, NORTE, VOZ, VIDA, PEDRA, SENTIDOS.

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Toze

Portugal

tozribeiro@gmail.com


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